O ratinho avistou de longe a ratoeira.
- “Eu te conheço bem, disse parando,
máquina traiçoeira
de que meu velho pai anda sempre falando”.
- “Não chego, não, aí,
Vendo-te assim de longe eu fico satisfeito;
desconfio de ti,
mas sempre quero ver como tudo isto é feito”.
E como julga ser o rato mais esperto,
Vai chegando, chegando, até ficar bem perto.
E olha, e torna a olhar, e dando a volta inteira,
Não cansa de estudar a ratoeira.
De repente, descobre que lá dentro
há um pedaço de queijo mal assado,
Lá, bem no centro,
A um ganchinho parece pendurado.
- “Aquilo é tentação, tenho certeza!
Mas o queijo está mesmo que é um regalo!
Se pudesse de perto contempá-lo,
Ó que beleza!”
- “Mas é preciso entrar, e entrar é perigoso,
Meu pai assim o disse!
Estará mesmo armada?
Também um rato assim tão cauteloso
Nunca vê nada!
Isso é tolice!”
E vai entrando, entrando,
e a gulodice sempre aumentando.
E quando está bem perto da armadilha,
Aspira-lhe o perfume,
Examina-lhe a cor, as formas e o volume,
Dizendo: -“Eu a conheço,
Não me pilha!
Até já me despeço.”
Mas não pode sair! Está tentado!
- “Deve estar muito bom! Ó, como cheira!
Que bom bocado!
Que petisqueira!”
Afinal, dá a dentada!
Volta assustado;
Quer sair, mas não pode! A ratoreira
Já está fechada!
O RATINHO, autoria de Beyre, tradução de Romão Pinggari.
Agradeço ao querido Carlos Osvaldo Pinto, um importante mentor na minha jornada, por compartilhar esta preciosidade em forma de poema que foi dedicado a ele por sua mãe. Segundo Carlos, Romão Pinggari, foi um europeu radicado no Brasil e se tornou professor (há rua e escola com seu nome), mas esta talvez tenha sido sua melhor lição.