Relacionamentos são campos férteis de crescimento
Por Ruth Davis (Tradução: Beatrice Koopmann)
Rude é uma palavra que descreve a terra e as pessoas do Norte de Portugal: colinas rochosas e rostos marcados pelo tempo. Depois de ter aguentado firme durante várias batalhas históricas, Porto orgulhosamente reivindica o título de “a cidade invencível”. Mas juntamente com a dureza há uma ternura, como os ramos delicados das videiras. Há uma sensibilidade e tristeza que podem ser expostas de forma inesperada; como quando ouvem a tradicional música portuguesa chamada " fado ", eles começam a chorar.
Nos séculos XV e XVI, Portugal foi uma potência dominante, iniciando a exploração e novas rotas comerciais em todo o mundo. Navios carregados de ouro do Novo Mundo financiaram a expansão portuguesa pelo Brasil, África do Sul e Sudeste Asiático. Mas a riqueza acabou. Hoje Portugal é um dos países mais pobres da Europa Ocidental. Muitos jovens estão deixando o país para tentar o futuro em outro lugar.
Enquanto alguns cidadãos estão deixando o país, em 2011 nossos colaboradores pioneiros chegaram. Como parte do Projeto Portugal, uma iniciativa da Aliança Cristã e Missionária Brasileira, meu marido Mike e eu viemos para plantar igrejas e oferecer esperança a um povo e uma geração que sentem que não têm futuro nem esperança. Como esta é a primeira vez que a Aliança envia colaboradores a Portugal, nós não tínhamos um programa a ser seguido. Quando as pessoas e as oportunidades surgem em nosso caminho, nós as abraçamos. Mesmo com planos estruturados, o resultado é imprevisível e muitas vezes uma total surpresa.
No último outono nossa colega de equipe Charlotte Hisle se mudou para uma cidade que não tem nenhuma igreja evangélica. Durante um retiro de oração, logo depois, alguém orou para que, em vez de ela ter que procurar as pessoas, elas viessem até ela. Não muito tempo após seu retorno, foram bater à sua porta com uma cesta de produtos caseiros e oferecendo dicas de jardinagem, bem como trabalho voluntário e convites para caminhadas. A “Sra. Google” apareceu e deu informações sobre tudo para a Charlotte, desde um bom mecânico até onde comprar cadeiras para a sala de jantar. A bondade parecia não ter fim. Em resposta, as mulheres receberam de Charlotte um ouvido atento, oração, consolo no luto, ajuda com os pais idosos, apologética para um professor de filosofia e um estudo bíblico semanal. Charlotte também realizou vários chás em sua casa e recentemente fez um assado de sardinha com a presença de mais de 50 pessoas, a maioria vizinhos. Tudo isso aconteceu em menos de um ano.
Outra oportunidade inesperada veio quando Mike recebeu a proposta para ser o treinador de um time de futebol americano de 40 jovens portugueses. Que grande conexão - e na mesma cidade onde vive Charlotte. A equipe estava à procura de um norte-americano mais velho, que tinha crescido com o futebol e que poderia ser respeitado. “O futebol é um bom local para ensinar princípios de vida, tais como comprometimento, disciplina, trabalho em equipe e respeito pelos outros”, explica Mike. “Acima de tudo eu quero ser um exemplo de alguém que é um seguidor de Jesus, enquanto procuro oportunidades para compartilhar a minha fé.”
Estamos tentando construir uma comunidade com a equipe de várias maneiras. Além dos treinos e reuniões de Mike com os coordenadores da defesa e do ataque, estamos tentando fornecer equipamentos americanos, que não estão disponíveis para compra em Portugal. Quando retornamos aos Estados Unidos em julho, porque a minha mãe estava gravemente doente, Tim McGarvey, pastor da Igreja Aliança de Altoona, na Pensilvânia (nossa igreja mãe), pediu a escolas do ensino médio na região por doações de equipamentos usados. Em agosto, voltamos para Portugal carregando duas malas extra recheadas de equipamentos de futebol. Em setembro, fizemos um churrasco de hambúrguer americano no quintal da casa da Charlotte para iniciar a temporada.
Outras maneiras de fazer contato são lojas e cafés. Nossos colegas brasileiros, Danilo e Elaine, descobriram que, ao comer no mesmo restaurante, eles conseguiriam desenvolver relacionamentos com os garçons e cozinheiros também. Um relacionamento em especial resultou num estudo bíblico, que durou alguns meses. Alguns contatos foram feitos em ambientes mais tradicionais. Um deles se deu através de um convite para dar aulas de moral e religião em uma escola pública. Durante o ano passado eu ministrei um curso sobre princípios financeiros a partir de uma perspectiva bíblica, algo útil em uma época de crise econômica. Além do contato em sala de aula, há oportunidades para se reunir com a administração, outros professores e monitores.
Além disso, eu me tornei uma conselheira certificada via internet para “Paz com Deus”, um braço da Associação Evangelística Billy Graham. Como as pessoas navegam na Web à procura de respostas para as perguntas sobre Deus, anjos ou o sentido da vida, às vezes elas acabam acessando o site. Eu recebo os nomes das pessoas que vivem nas duas cidades que nossa equipe Aliança quer impactar. Já tivemos alguns encontros face a face, além da correspondência eletrônica contínua.
Não importa como nós as encontramos, as pessoas estão curiosas sobre quem somos. Alguns de nossos novos amigos são católicos praticantes, outros são nominais e mantêm sua conexão com a igreja por causa de laços familiares. Outros têm uma mentalidade secular, não acreditando em nada, e ainda outros se envolvem em bruxaria, que tem sido praticada aqui há séculos.
O catolicismo romano é a religião predominante em Portugal e as igrejas são numerosas e ornamentadas. O foco de devoção é evidente nas obras de arte. Geralmente, Maria é representada coroada como a Rainha do Céu, em uma grande pintura ou estátua, na frente e no centro. Por outro lado, Jesus é mostrado tanto como um pequeno bebê ou na cruz à esquerda ou à direita, ou mesmo na parte de trás da igreja como um cadáver em um caixão de acrílico! É fácil perceber onde a ênfase está.
As coisas estão fora do eixo. Consequentemente, as pessoas me perguntaram mais de uma vez: “Você não acredita em Maria ou nos santos, não é?” Este parece ser o fator delineador entre católicos tradicionais de Portugal e sua compreensão dos cristãos evangélicos, que compõem menos de 1 por cento da população. “Sim, nós acreditamos que Maria e os santos foram pessoas que viveram uma vida boa e fizeram coisas extraordinárias”, costumamos responder. “Mas nós não oramos a elas nem as servimos.” Definir quem é Jesus e Sua prioridade acima de qualquer divindade, santo, pessoa, realização ou posse é a questão crucial não só para Portugal mas para o mundo. Ele é o nosso Senhor Jesus Cristo, que é “cheio de graça” e a quem “veneramos”, e Ele é quem oferece a salvação para aqueles que creem nele.
Enquanto estávamos nos Estados Unidos neste verão, tivemos a oportunidade de falar em algumas igrejas. Usando Eclesiastes 11:4-6, Mike lembrou-nos que o nosso trabalho é semear uma grande quantidade de sementes e colher. Entre a semeadura e a colheita, Deus cuida do milagre do crescimento. Minha mãe, que amava a agricultura, deixou-nos uma ilustração viva. Ela havia plantado sementes de feijão, e os brotos tinham três centímetros de altura quando cheguei no dia quatro de julho, três dias antes de sua morte. No momento do nosso retorno a Portugal, houve uma colheita. Minha mãe plantou, eu (sua filha) reguei e seu neto ceifou. Deus fez o milagre do crescimento, o que não entendemos.
Em Portugal, a nossa vocação pode ser a de plantar as sementes do evangelho, mas esperamos também ter uma colheita. De qualquer maneira, nós dependemos de Deus entre as duas ações.
Mike e Ruth Davis trabalharam como missionários da Aliança no Brasil durante 24 anos antes da transição para Portugal em 2011.
Matéria da Alliance Life de Outubro
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