sábado, 9 de setembro de 2017

SENDO MISSIONÁRIOS LOCAIS SEM NEGLIGENCIAR A MISSÃO GLOBAL



Por Ed Stetzer*

O chamado para sermos missionários onde estamos - ser “missional” - muitas vezes resulta em igrejas que negligenciam a missão global da igreja. Nós demos muitos passos na direção certa, mas ainda não chegamos lá.

Por que tantos cristãos missionais não estão envolvidos na missão global de Deus? Por que estamos tão ocupados localmente que não somos bons globalmente?

Há cinco razões pelas quais acho que lutamos com isso:

1. Ao redescobrir a missão de Deus, muitos descobriram apenas suas dimensões pessoais.

Não quero dizer que eles tenham de alguma forma localizado a missão em sua vida interior, “privada” - isso faria pouco sentido. Em vez disso, o encorajamento de cada pessoa a estar em missão (ser “missional”) tendeu a uma obrigação pessoal de configurações pessoais, em vez de uma obrigação global de promover o Reino de Deus entre todas as nações.

“Missional” fundiu-se com o Cristianismo privatizado para servir como motivo de projetos pessoais realizados em esferas pessoais. Isso não é necessariamente ruim. Mas quando o impulso missional não é expandido para incluir a missão global de Deus, ele resulta em crentes movidos apenas para ministrar em suas próprias Jerusaléns sem focalizar sua mente em relação às suas Judeias, Samarias e as partes mais remotas da terra (Atos 1:8).

2. Ao responder à missão de Deus, muitos queriam ser mais parecidos com a missão e, portanto, transformaram tudo em “missão”.

O historiador de missões Stephen Neil, respondendo a um aumento semelhante no interesse pela missão (o movimento missio Dei dos anos 1950 e seguintes), o explicou dessa forma: “Se tudo é missão, nada é missão”. A preocupação de Neil era que o foco mudasse de evangelização global (muitas vezes chamada de “missões”) para a transformação social (muitas vezes chamada de “missão”). Ele estava certo.

John Piper ecoou essas mesmas preocupações, diferenciando entre evangelismo e missões. Ele nos lembra que quando “todo cristão é um missionário”, que equivale a “missional”, então diluímos a necessidade e a especialidade dos missionários para terras estrangeiras. (Embora eu gostaria de matizar a linguagem de John um pouco, eu concordo com o seu ponto.)

Convidar pessoas para a igreja e limpar a igreja são empreendimentos nobres, mas chamar isso de “missional” e “serviço” é, na melhor das hipóteses, uma ingenuidade ministerial. Isso demonstra a confusão que se instala quando os rótulos se tornam chavões. E, à medida que as bordas externas do rótulo missional ficam confusas, assim também a missão para as partes mais remotas do mundo fica confusa.

3. Ao relacionar a missão de Deus, a mensagem inclui cada vez mais o doente, mas menos frequentemente, inclui o perdido global.

Você só precisa assistir os vídeos para ver as ênfases: projetos globais de órfãos, erradicação da AIDS, caixas de sapatos de natal, etc. Todas essas causas agora possuem grupos de defesa, e certamente eles são importantes. No entanto, seu vocabulário e quadros de referência frequentemente não dão espaço para evangelizar as mesmas pessoas que eles tocam.

A mensagem do evangelismo mundial, na verdade, parece mais comum nas igrejas com legados tradicionais do que nas igrejas missionais. As igrejas missionais parecem falar mais de povos não servidos em vez de povos não alcançados. À medida que nos comprometemos em entregar a justiça, também precisamos entregar o evangelho independentemente do status de alguém em uma cultura.

4. Ao se reorientar na missão de Deus, muitos estão se concentrando em ser uma boa notícia, em vez de contar a boa notícia.

São Francisco, alegadamente, disse: “Pregue o evangelho em todos os momentos e, quando necessário, use palavras.” Curiosamente, São Francisco nunca disse isso, nem o teria feito devido à sua participação em uma ordem de pregação. Mas esta é uma citação enérgica lançada em declarações de missão e sermões de visão em igrejas missionais por todo o meu país. Por quê? Parece que muitos na conversa missional colocam um valor maior em servir o doente global ao invés de evangelizar o perdido global. Ou talvez seja apenas mais fácil.

Não estou incitando uma dicotomia aqui, só estou observando que já existe uma. É irônico, no entanto, que ao mesmo tempo que tantos cristãos missionais tenham procurado “incorporar” o evangelho, eles escolheram abandonar um membro do corpo de Cristo: a boca.

5. Ao reiterar a missão de Deus, muitos perdem o contexto da missão global e da necessidade da presença global da igreja.

Por qualquer motivo - seja o admirável motivo do compromisso com a igreja local ou o desprezível motivo do compromisso com o cristianismo consumista personalizado - nós perdemos o grande escopo de toda a família de Deus. Enquanto Cristo chama pessoas de todas as línguas, tribos e nações, nós nos contentamos com a nossa língua, tribo e nação.

Muitas igrejas estão abraçando de forma maravilhosa o imperativo missional, mas, à medida que procuram “possuir” a missão, adaptando sua igreja a um movimento missional em sua comunidade local, alguns localizam inadvertidamente a própria missão de Deus e perdem a conexão vital que todos os crentes compartilham. Um híper-foco em nossa própria comunidade resulta em uma visão perdida para a comunhão dos santos.

Então, como colocamos “missão” de volta em “missional”?

Quatro Princípios a Considerar

Primeiro, reconheça que a missão é de Deus, e que precisamos ser apaixonados pela missão conforme Ele a descreve. Não somos donos da missão, e ela não é nossa para a definirmos. É bom ter uma declaração de visão da igreja, mas a missão de Deus é melhor e maior. Nossa primeira tarefa é submeter-nos à missão de Deus.

Segundo, os evangélicos têm minimizado o chamado para servir os pobres e doentes e precisam de um envolvimento mais forte na justiça social. Isso parece contra-intuitivo se procuramos remediar a perda de preocupação pelo evangelismo articulado. Mas o engajamento social envolve o engajamento relacional e o envolvimento relacional implica em oportunidades para compartilhar o evangelho. Os êxitos e experiências em nossas comunidades deveriam despertar corações e mentes para as necessidades globais. Precisamos apenas manter o motivo da justiça social: a glória de Deus na adoração de Jesus.

Terceiro, compartilhe a profunda preocupação de Deus em relação à Sua missão para as nações - que o Seu nome seja louvado pelos lábios de homens e mulheres de todos os cantos do globo. Sinta a Grande Comissão em seus ossos. Peça a Deus para transformar seu coração por aqueles que você não pode ver. Como fez Paulo, desenvolva maneiras de “lutar pessoalmente” por aqueles que estão longe (Colossenses 2:1). A conversa política atual sobre os refugiados deveria ser uma lembrança útil de que nossos corações precisam ser dominados pela missão tanto a nível local como global.

Quarto, as igrejas que são sérias em seu chamado de se juntar a Deus em Sua missão, obedecerão a Seus mandamentos de discipular as nações. O produto final do esforço missional deve ser um cristão maduro pronto para produzir mais cristãos maduros.

Parece-me que muitas igrejas missionais estão perdendo a Grande Comissão em nome de serem missionais. Isso não faz sentido algum. É um grande erro (mas historicamente comum).

Se estamos realmente interessados em sermos missionários locais - em juntar-nos a Deus em Sua missão - nossos esforços devem realmente refletir Sua missão declarada. Nós estamos ligados ao Grande Mandamento como a expressão humana mais completa do amor de Deus. Mas o Mandamento não é hermeticamente separado da Grande Comissão. Em vez disso, a Grande Comissão fornece o “o que” da missão, enquanto o Grande Mandamento fornece parte do “como”. Respondendo à antiga pergunta de “Quem é meu próximo?”, deve resultar no desejo de “fazer discípulos de todos nações”.

* Ed Stetzer é Presidente da Igreja, Missão e Evangelismo Billy Graham no Colégio Wheaton, é diretor executivo do Centro para Evangelismo Billy Graham e é pastor interino da Igreja Moody em Chicago.

Reimpresso de EdStetzer.com, 16 de fevereiro de 2017. Usado com permissão.
Extraído da Revista Alliance Life, edição julho/agosto 2017. 
Tradução de Beatrice Koopmann

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