Que
seria da bola de futebol sem um menino bem brasileiro na vida dela?
Os dois
nasceram, sob medida, um para o outro.
Ambos
gostam de brincar. Toda bola adora ser brinquedo, seja no Brasil, seja na
Patagônia.
Aqui no
Brasil, porém, a história é diferente. Aqui a bola é parceira, que ajuda o
menino a fazer suas mágicas.
O
inglês inventou o futebol. O brasileiro inventou o futebol de delícias... O
futebol das malícias.
A
mágica é facilmente explicável. Basta ver, através da história, um louro
britânico jogando bola. O corpo apolíneo não ginga. Corre empinado, ereto É a
encarnação do futebol-força.
Foi,
então, que o brasileiro entrou em campo, desossando o futebol europeu. Regando
músculos mais frescos, até criar o jeito sestreiro de jogar futebol.
Em vez
da linha reta, a corrida sinuosa, célere, coleante, repleta de florões e
arabescos. Tal como a capoeira, irmã gêmea da finta, inspiração do chute de
curva, do passe de calcanhar, pérolas do barroco brasileiro no campo de
futebol.
O
brasileiro vindo da taba e da senzala, inventa então, a pelada, o futebol de
medula. Que antes de pensar, intui. Que antes de sentir, presente.
Leônidas
da Silva não parou para pensar no instante que fez o primeiro gol de bicicleta.
Nem Didi, quando inaugurou, nos campos, o chute da folha seca.
Muito
menos Pelé, ao dar ao corta-luz a graça de um gesto de balé. Ou Garrincha,
quando corria o campo todo, compondo, com seus dribles, espirais de vento e
alegria.
Jogo de
futebol, jogo de cintura. Sem dúvida uma das mais belas metáforas da alma brasileira.
Texto maravilhoso do notável jornalista Armando Nogueira, no livro "Futebol-Arte" (página 14 e 15).
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Quer acrescentar ou comentar? Fique à vontade para regristrar aqui.