Um encontro na tempestade

Passar por uma tempestade pode ser revelador. Foi assim com os discípulos de Jesus. Muito além de sentimentos e emoções do momento, pode significar um encontro que mudará tudo que se seguirá depois.

Na tempestade vivida pelos discípulos de Cristo (Mc. 4.35-41) percebemos que depois de um dia cheio, o Mestre descansa, mas os seus discípulos se desesperam (35-38). Ao ser buscado, Jesus age, mas os discípulos permanecem perplexos (39-41).

Pense comigo o que o registro de Marcos, que tem por base o testemunho do apóstolo Pedro, poderá nos ensinar sobre o fundamental encontro conosco mesmo e com o outro?

Até este momento o autor do evangelho, guiado pelo Espírito Santo, apresenta Jesus agindo intensamente (capítulos 1 e 2), porém, gradualmente vai revelando como o mestre que convoca os seus aprendizes (2.13-17; 3.13-18) e com suas imagens, histórias e sabedoria divina encanta multidões e cativa mentes e corações (4.1-34).  

No entanto, agora, por meio de uma experiência tão radicalmente estressante, o que o mestre estaria a ensinar?

Somente entrando no mar bravio, neste pequeno barco em “forte tempestade” que assombrou até aos mais experientes pescadores, é que aprenderemos a mais surpreende lição. Muitas vezes, somente quando passamos pela angústia, perigo e medo juntos, é que perceberemos a realidade da vida.

Sim, o distanciamento do outro e das tempestades que arrastam milhões e milhões de vidas ao sofrimento só nos empobrece e aliena. Será este um dos grandes benefícios da tempestade? Colocar todos no mesmo barco para que possamos aprender a não mais nos desesperar, mas tão somente, descansar e confiar em Suas palavras?

No alto mar com Jesus sempre haverá muito a aprender mesmo quando movidos por desespero e medo. No barco com Jesus aprenderemos quem Ele é, e quem de fato tem o poder e autoridade sobre a maravilhosa criação. No mar e na vida, quase sempre é assim. De repente, coisas ruins nos sobrevêm, e o mestre sai de cena e silencia para ensinar aos seus aprendizes a sublime lição: não é você, mas o Outro que de fato importa!

Não é o meu medo. Nem mesmo a tempestade lá fora. Não é a minha dor, ou o nosso eminente fracasso e morte. É a boa notícia que vem da tempestade: o Mestre está no comando! Aquele que nos ama está presente e age em favor da Sua glória e perfeita vontade em todo tempo!    

O vento forte, a água agitada, e o coração egocentrado só nos fará “morrer afogado” interiormente; porém, uma nova percepção de quem Ele é, e o que Ele faz pelos seus discípulos, mesmo no meio da pior tempestade, nos convida a confiar em todo tempo.

Sim, Aquele que é maior que a tempestade, e que nos ama com seu furioso e incontrolável amor está no barco; Ele está presente! Ele não é como nós; Ele jamais abandona os Seus diante do perigo: “Mas chegará o tempo, e já é agora, em que vocês serão espalhados, cada um para a sua casa; vocês me deixarão sozinho. Mas ainda assim eu não ficarei sozinho, porque o Pai está comigo. Eu falei tudo isso para que tenham paz em mim. No mundo vocês terão muitos sofrimentos e tristezas; mas, tenham bom ânimo, porque eu venci o mundo” (Jo. 16.32-33).

O Seu poder é suficiente para vencer cada medo e sofrimento. E mais, o Seu amor incondicional pelos Seus o levaria à cruz, a maior das tempestades, porém ali mesmo o propósito do Pai derrotou o poder do pecado, da morte e do inferno para a glória do único Rei, e em breve, a vinda do Seu Reino e Sua plena vontade. Pode confiar!