“Se quiser construir um navio, não convoque as pessoas para juntar madeira e não dê a elas tarefas e trabalho; antes, ensine-as a desejar ardentemente a imensidão infinita do mar”. Antoine Saint-Exupéry, O Pequeno Príncipe
James K.A Smith no seu livro “Imaginando o Reino” explica: O anseio leva a ação. A ação e o trabalho são gerados mais por visões do que por máximas, mais por um telos do que por uma regra.
O autor da carta aos Hebreus nos
conclama a desembaraçar “de todo peso e
do pecado que tenazmente nos assedia… olhando firmemente para o Autor e
Consumador da fé, Jesus’ e a considerar ‘atentamente, aquele que suportou
tamanha oposição dos pecadores contra si mesmo...” (Hb. 12.1-3). Olhar com
olhos do coração, apropriar diariamente de Jesus e sua obra sacrificial – o
evangelho, deve ser o nosso o foco.
É essa “imensidão infinita do mar”
que nos transforma e motiva para servirmos com alegria o Senhor e nosso
próximo. Assim, estando centrado no que ele é, fez, e no que você se tornou
por sua graça, do que você tem que fazer para ele. Pois é precisamente essa
gloriosa notícia que satisfaz a alma e transforma a vida, a imensidão infinita do
mar que devemos ansiar.
Por que estar
mais centrado no que Cristo é e fez, do que você tem que fazer? Porque estamos inclinamos
a confiar mais em nossa lealdade por Cristo do que na lealdade dele por nós.
Foi a confiança maior em sua própria lealdade que levou Pedro a negar a Jesus.
Você precisa voltar a sua mente para quem Cristo é, o que foi feito por Ele
a seu favor e para o que você se tornou por ter crido nele – filho amado,
santo e agradável. Assim, será capacitado a responder com amor e serviço a
Deus e o seu próximo.
Outro
motivo para estar focado no evangelho da graça e do amor de Deus por nós, é que
sempre voltamos ao nosso padrão automático de desempenho. A autora Elyse Fitzpatrick afirma: “Todos
os descendentes deles (Adão e Eva) – nós todos – passariam a vida se escondendo
uns dos outros e do Senhor, marcados pelo isolamento, a suspeita e a vergonha,
tentando trançar folhas de figueira para cobrir a nossa ignomínia”.
Outra razão é que o poder
transformador e motivador para fazer o que tem que fazer vem de Cristo e sua
obra – o evangelho (Rm. 1.16). A lei simplesmente diz o que fazer, o evangelho
dá a motivação e o poder para fazer.
Assim, você precisa desejar ardentemente a imensidão infinita do mar
da graça e do amor de Deus em Cristo e sua obra.
Mas o
que significa estar mais centrado no que Cristo é e fez, do que você tem que
fazer?
Primeiro,
implica lembrar da imensidão infinita do mar da graça que o aceitou e o amou,
por causa da vida, morte e ressurreição de Cristo. Essa é a primeira etapa da nossa salvação. Você tem que lembrar
quem ele é, e fez a seu favor. Ele é o Filho amado do Pai e nosso irmão mais
velho que nos justificou. Ser
justificado é ter a mesma reputação do Filho de Deus. O Filho recebeu a
condenação e nós a absolvição. Ele assumiu sua identidade pecadora para nos dar
uma identidade justa, assumiu nosso histórico de vida vergonhoso e nos dá o seu
histórico glorioso. Isso ocorreu de uma vez por todas. Assim você fica livre da
culpa e da condenação que os seus pecados merecem.
Sim, só há uma senha para
entrar nos infinitos depósitos da graça e do amor de Deus, essa senha não é a
sua religiosidade, não é a sua moralidade e nem suas virtudes, mas a perfeita
justiça que Cristo adquiriu por sua vida impecável, sua morte e ressurreição. Sem Cristo, você é um candidato ficha suja. Você necessita da
ficha limpa do seu Salvador. Você ousará comparecer diante do seu tribunal com
os trapos imundos de sua injustiça? Nem o Filho de Deus foi poupado quando o
fez em seu favor. Contudo, Deus insistiu em amar a sua criação e esse amor o
levou morrer por ela.
Segundo,
estar focado em Cristo, implica em lembrar da imensidão infinita do mar do amor
de Deus, pelo qual você está sendo salvo do domínio do pecado. Segunda etapa; chamamos santificação, crescimento na graça ou ser
moldado à imagem de Cristo. Mais uma vez, você tem que centrar em Jesus e sua
obra. Aqui é crucial, porque é aqui que mais tendemos em focar no que temos de
fazer.
Cremos em Jesus e recebemos o perdão, mas podemos voltar ao antigo modo, padrão do desempenho religioso. Todo mundo conhece a lista: amar a Deus, e o próximo...as listas e a prestação de contas são boas; mas nunca motivarão ninguém a amar somente o evangelho é de fato capaz de implantar o amor e o desejo de obedecer em nosso coração. Paulo diz que é contemplando a glória de Cristo que somos transformados (2 Co. 3.18). Onde podemos ver a glória de Cristo com toda intensidade? Na imensidão infinita do mar do perdão, aceitação e adoção que recebemos pela fé em Cristo e sua obra do calvário.
Dessa forma, completa Elyse
Fitzpatrick, “Agora somos livres para obedecer como filhos abençoados e
amados... é lembrando de nossa união com Jesus na cruz que somos
transformados – postos em liberdade para amar a justiça e o Deus que a concedeu
a nós. Nossa antiga relação com Deus como Juiz a quem desprezávamos foi
transformada nessa relação com um Pai amoroso que nos acolhe com alegria como a
bela noiva de seu Filho”.
Anseie
ardentemente a imensidão infinita do mar. Pois não
é o esforço que nos levará de volta para casa. Todos esses esforços estão nos
levando ao momento vital em que dizemos a Deus: “O Senhor é que terá de fazer
isso, eu não consigo! ” Conforme sintetiza C. S. Lewis, é a mudança da
confiança em nossos próprios esforços para o estado em que desistimos de fazer
qualquer coisa por esforço próprio e deixamos tudo por conta de Deus.
Mas isso não
é inação, os salmistas dizem para esperar em Deus, eles estão confiando,
buscando o Senhor em oração, obedecendo e louvando. Nosso esforço deve ser
olhar para Cristo e sua obra a nosso favor, recebida gratuitamente pela fé.
Você tem que deixar de confiar no seu esforço e olhar para a cruz. Nossa
confiança em nossos esforços, obras para vencer as imperfeições sempre acabarão
em frustração. Mas ao apropriar pela fé de que sou filho amado em Cristo me
torno apto para imitá-lo. Leve uma vida de amor, porque você é amado. Porque
você é amado, agora você deve imitar a Jesus (Ef. 5.1).
Mergulhe na imensidão infinita do mar. J. Piper arremata: “Deus nos considera aceitáveis, torna-nos seus filhos, conta-nos como justos; e por causa dessa justiça, passamos uma vida inteira nos tornando aquilo que somos” Nos tornando internamente no que já somos externamente – santos e agradáveis (Rm. 12.1).
Graças a Deus
por Jesus Cristo, nosso Senhor! (Rm. 7.25) É Jesus quem o liberta dessa
impotência desanimadora na luta, do esforço próprio contra o pecado; não seus
esforços; não suas resoluções... Só Jesus é o seu libertador. Aqui o que se
celebra é a libertação do domínio do pecado em nossas vidas. É o amor de Deus
em sua imensidão infinita por nós que nos renovará (Sf. 3.17.).
Terceiro,
implica lembrar ainda, da imensidão
infinita do mar de uma vida perfeita vivida em nosso lugar, que nos
conduzirá à glória. O último estágio da nossa redenção é
a glorificação. Nós podemos
viver com esperança sabendo que nossa vida aqui não é tudo o que existe. Um
futuro glorioso de paz e alegria nos espera, quando tudo o que foi distorcido e
destruído será concertado, e viveremos eternamente na luz de sua face gloriosa.
Essa é a nossa jornada de fé. Walter Hooper diz: “Tal jornada conduz à feliz
‘terra da Trindade’. É ali que começam as alegrias quase inimagináveis neste
mundo. Começam, não terminam. Naquela ‘feliz terra’, não será preciso que nos
expliquem o ‘assunto sério do Céu’. Nós nos esqueceremos de qualquer outra
coisa já existiu algum dia”.
Concluímos
com Elyse Fitzpatrick: “Até agora não falei sobre o que você precisa fazer...
Se toda a obra que ele fez e todo amor que ele demonstrou por você não moverem
o seu coração para desejar retribuir o amor dele, então eu lhe dizer que o ame
e obedeça... não vai convencer você a obedecer... Ao permanecermos na justiça
imputada... no amor de Deus por nós, saberemos que estamos mais centrados no
que Cristo fez por nós”. Sim, estar centrados no amor de Deus e no que Cristo
fez a seu favor é a imensidão infinita do mar. É essa verdade aplicada pelo
Espírito que nos tornará santos e aceitáveis filhos de Deus, “postos em
liberdade para amar a justiça e o Deus que a concedeu”. E também me conduzirá
ao meu verdadeiro lar para onde irei, viverei por vista e estarei com
Jesus. Ali viverei imerso em fonte
inesgotável de alegria, deleites e adoração para sempre.
Rev. Djalma Freitas
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