domingo, 5 de março de 2023

Dois modos de estar perdido e um só modo de ser salvo

  


Sob uma das perspectivas bíblicas, só há dois caminhos de redenção; o caminho da morte e da vida eterna. Mas numa outra ótica também escriturística, como na parábola do filho pródigo, há também dois modos de estar perdido e um só modo de ser salvo.

Vejamos, o primeiro modo de estar perdido, é o modo irreligioso. Essa é uma maneira de pensar de parte da nossa cultura. É o que se denomina caminho da autoafirmação e da autodeterminação. Esse indivíduo está disposto a romper com toda a tradição familiar. Ele diz; sou o capitão do meu próprio navio. Você não pode confiar sua vida a mais ninguém. Ninguém mais pode te dizer o que é certo e errado, a não ser você mesmo. Seus lemas são: não terceirize sua vida, viva intensamente, tudo o que importa é o aqui e agora. A vida é insatisfatória, depois disso, você morre. Os mais cínicos vão dizer: “Se existe um Deus, ele saiu para almoçar. Você não deve nada a ele”. Uma canção da banda For Non Blonds, com o título What’s up expressa essa maneira de pensar dizendo: “Estou tentando subir aquela grande colina de esperança, procurando por um destino”.

Como veremos, ser irreligioso, é uma forma de religião. E como toda religião tem o seu deus. Os seus deuses, ídolos são: a escolha, a liberdade pessoal, a tolerância absoluta, a rejeição da verdade exclusiva e da responsabilidade pessoal, a competência profissional e status. Esse é um dos caminhos de autossalvação defendido por parte de nossa cultura. São os que chamaríamos de irmãos mais novos, conforme parábola bíblica, que se rebelam para conseguir o que querem.  Mas vamos ver que, irmãos mais velhos fazem a mesma coisa, com uma estratégia diferente.

O segundo modo de viver e estar perdido é o modo religioso. Aqui se busca ser bom, religioso, virtuoso. Valoriza-se a família, a tradição familiar e a forma tradicional de pensar e viver. Aqui se vive em função da família, a família é tudo. Ou pode ser a Pátria, o nacionalismo que acaba se tornando em “patriolatria”, ou “nacionalismo tóxico” como chamou Timothy Keller. Em suma, esse é o caminho da moralidade. É pela retidão moral que podemos encontrar a felicidade e a justiça nesse mundo. O moralismo busca obedecer a lei de Deus, sendo justo e ético, para merecer a própria salvação. Talvez Deus seja seu ajudador, mestre e exemplo, mas seu desempenho moral é seu salvador.  Ele “acha que nada do que recebemos é graça; tudo é ganho por mérito. Ele vê o mundo quase como uma máquina que você pode controlar com seu comportamento moral. “Com este ponto de vista, toda vez que o problema chega, ele não apenas o aflige, mas o destrói, pois você pensará que é tudo culpa sua’ resume, Timothy Keller.

E mais, um passado dourado; núcleo familiar, raça, cultura tradicional e a respeitabilidade são transformados em ídolos.  Por se esquecer da misericórdia, o religioso moralista se torna ressentido. Sua vida é marcada por raiva e amargura. Sua autoimagem se baseia no desempenho. Assim ou ele é levado a ter sentimento de superioridade, que o leva a tratar o outro com desdém, ou de inferioridade, quando não atinge o padrão almejado e fracassa. Assim, ele oscila entre a superioridade e a inferioridade. Ele tem uma atitude humilde ou corajosa, mas nunca as duas coisas ao mesmo tempo.

É ainda marcado por falta de perdão. Como perdoar se você se acha superior?  Costuma-se dizer diante de um fracasso moral do próximo: “Eu nunca faria uma coisa dessas”. O religioso legalista não tem certeza do amor de Deus. Não se sente amado pelo Pai. Sua vida é fundada na performance. Ele acha que tem crédito diante de Deus. Acha que tem direito a uma vida boa. Ante o sofrimento diz: “Será que joguei pedra na cruz”? Porque as coisas não estão dando certo; vou a igreja, dou o dízimo, etc. Ele precisa da aprovação de outros para reafirmar o seu senso de valor. São pessoas movidas pela culpa, vergonha e medo.

Ambos são rebeldes de maneiras diferentes e estão perdidos. Um sendo mau o outro sendo bom. O irreligioso se rebela para conseguir o que quer. Os moralistas religiosos obedecem para conseguir o que desejam. Para ambos os filhos na parábola de Lucas 15 a felicidade estava na riqueza, não no amor do Pai. Ambos rejeitam o amor do Pai, o que eles mais prezam são os bens dele. Em outros termos, ambos estão em busca de redenção.

Legalismo ou moralismo religioso e relativismo irreligioso são estratégias diferentes de autossalvação. Para nós fica a advertência. Nossos pecados ou nossas melhores obras podem ser modos de evitar Jesus como salvador. Enquanto a religião torna a lei e a obediência moral em meios de salvação, a irreligião torna o indivíduo em lei para si mesmo. Para a esses dois modos de existência a advertência de Jesus é: “Pois quem quiser salvar a sua vida, a perderá, mas quem perder a sua vida por minha causa, a encontrará”. (Mt. 16:25 NVI).

São dois projetos de vida equivocados, mas um é mais perigoso que o outro. O irreligioso sabe que está perdido, o religioso não. Ambos estão errados, mas nada disso importa, o que realmente importa e conta para você agora é: somos amados pelo Pai, somos amavelmente convidados para entrar para a festa do banquete da salvação. Aceitaremos esse convite​? Receberemos seu amor?

Contudo há um terceiro modo de viver, que é o modo Evangelho. Ambos, o irreligioso e o religioso são chamados através do evangelho. Só ele de fato dá acesso a verdadeira festa. Jamais deixaremos de agir como irreligiosos relativistas ou moralistas religiosos, se não reconhecermos a necessidade da vida, morte e ressurreição do nosso verdadeiro irmão mais velho, isto é; o evangelho.

E ele começa com uma má notícia. Você é muito pior do que admite ser. Você precisa arrepender-se até mesmo das suas boas obras, por não atingir o padrão divino (Mt. 6). Se não, será condenado não apesar do seu desempenho, boas obras, mas por causa delas. Sua auto justificação é o último ídolo a ser vencido em sua vida. A boa nova é: Você é perdoado e aceito pela graça. E graça são bênçãos de Deus através de Cristo para pessoas que merecem sua maldição.

O que pode deixar o religioso fora do banquete do reino de Deus? Seu orgulho, por causa não por algo mau que tenha feito, mas por causa de algo bom. Coisas boas podem se tornar em ídolos. Ídolos são coisas boas feitas supremas. Será que fiz de uma coisa boa qualquer “minha vida”? Pense nas coisas boas que você valoriza em demasia. Você poderia dizer a elas: “Você é uma coisa boa, mas não preciso de você para ter vida e alegria”?

Nada se interpõe entre você religioso moralista e Deus, a não ser as suas boas obras, nas quais confia para sua salvação. Somos justificados, aceitos mediante a fé. Isto significa então que sou um fracassado em mim mesmo, mas amado em Cristo, um pecador feito justo nele mediante a fé. Não fé genérica. Nem mesmo crer num Deus que salva. É crer em Deus quando ele promete um caminho de salvação pela graça, fé em Cristo, em sua morte e ressurreição. Alguém disse: “Ele (o Evangelho) é o poder de Deus pelo qual podemos viver em liberdade, cheios de alegria e equilíbrio, em meio aos nossos sucessos, fracassos e mundaneidade da vida”. Como afirma Kelller, a descrença na graça está na raiz de muitos dos nossos problemas: Esquecemos que é o evangelho da graça que me livra do meu desempenho imperfeito e da motivação para ganhar minha justiça ou de me assegurar algum valor. É ele que nos resgata de vangloriar do sucesso, das respostas autodepreciativas ao fracasso, da necessidade de reconhecimento e do ressentimento quando não somos reconhecidos”.  

O Evangelho diz que não somos dignos em nós mesmos, mas já nos está assegurado honra, louvor e glória. Você só precisa da senha que dá acesso aos tesouros da graça e da misericórdia de Deus, essa senha é a justiça de Cristo creditada a você.  O Evangelho diz, olhe para a serpente dependurada na haste e vocês serão salvos. É ainda o Evangelho que permite admitir o pior em nós sem cairmos no desespero. Ele diz que somos mais pecadores que admitimos ser, mas infinitamente mais amados do que ousamos sonhar.  O termo pecador por si só não nos define, nós que estamos em Cristo. “Eu sou um fracassado amado, um pecador feito justo nele... Pecador indigno e incondicionalmente amado” (T. Keller).

Não tenha dúvidas, o modo Evangelho é o único caminho de redenção. Ele diz que somos amados pelo Pai. É ele que amavelmente nos convida para entrar para a festa do banquete da salvação. Aceitaremos esse convite​? Receberemos seu amor do Pai?

“O pai, disse aos servos: ‘Tragam depressa a melhor roupa e vistam nele. Ponham um anel no dedo dele e sandálias nos pés. Tragam e matem o bezerro gordo. Vamos comer e festejar, porque este meu filho estava morto e reviveu, estava perdido e foi achado’. E começaram a festejar. ” (Lucas 15.22-24).

 

Rev. Djalma Freitas

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