Desde a invasão portuguesa, por séculos no Brasil, muitos protestantes evangélicos viram com repulsa alguns símbolos cristãos. O mais importante destes: a cruz. Historicamente, a maioria dos evangélicos olha com certa restrição à cruz, especialmente ao crucifixo.
Porém, ao negar ou fugir de olhar para a cruz, também esvaziamos e enfraquecemos o seu significado, sobretudo, o significado da ressurreição de Cristo.
Façamos algumas perguntas para nossa reflexão. Será que a igreja, dita evangélica no Brasil, realmente entende o profundo significado da morte de Cristo, suas implicações para vida pessoal e a vida em comunidade nos dias de hoje? E se entendemos, por que então muitas igrejas têm tanta dificuldade em lidar com o sofrimento, com as complexidades da vida e o com o cuidado das pessoas “mais problemáticas”? Por que tanta dificuldade com a perda e, atualmente (diferente de outros tempos) dificuldade em lidar com a morte?
Por que será que a celebração da Santa Ceia, morte e ressurreição do Senhor, em muitos dos nossos cultos têm tão pouca significância? Pense comigo: o Natal, não é muito mais "valorizado" nas nossas celebrações do que a Páscoa? E não é a Páscoa cristã o fundamento da morte e ressurreição de Cristo e da salvação?
Faço algumas considerações finais para sua reflexão sobre o assunto.
Primeiro, precisamos reaprender o significado da cruz! Pois, de fato é no Cristo crucificado que eu encontro minha verdadeira identidade como cristão e discípulo. A cruz oferece uma experiência a ser vivenciada com o poder de Cristo na vida cotidiana. Portanto, ao mergulhar na compreensão da cruz que eu me preparo para lidar com a dor do outro, bem como, com a vida e com morte.
Segundo, os símbolos são importantes sim. Eles nos remetem ao compromisso firmado. A cruz, por exemplo, como símbolo maior da fé cristã, me impulsiona a uma rica experiência vivenciada no campo pessoal e nos relacionamentos celebrados com profundidade na comunidade de fé chamada, a igreja.
Terceiro, quando leio os evangelhos observo que os autores contam a história de Jesus a partir da cruz. A narrativa do Evangelho (nascimento, vida e ensino do Mestre) encontra seu ápice na vergonha da cruz. Portanto, aqui está o centro do Evangelho. E a igreja em Atos nasce e cresce contando a história da cruz. Anunciando a chegada do reino e de uma nova comunidade: a comunidade da cruz!
Encerro com uma paráfrase do grande Martinho Lutero: o cristão da cruz tem o compromisso com a verdade, mas o cristão da glória com o sucesso!
Pense, com o que você se encontra comprometido neste exato momento? Com a cruz ou com os sucesso?
Certamente não precisamos exacerbar a violência, a dor, o luto, a sexta-feira na tentativa humana de expurgar nossos pecados, para daí sim, achar um “salvador” merecedor e digno. Não! Jesus Cristo é digno e Sua obra é perfeita e completa. A cruz é o centro e deve estar sempre no centro. Precisamos entendê-la com profundidade sim. Sua dor e seu propósito. Seu desafio e seus benefícios são para hoje e eternamente. Sua relevância transformadora.
Daí o movimento fundamental: da cruz para a coroa e da coroa para a cruz. Deixemos o pré-conceito que nos leva pra longe da cruz, e lembremos sempre da cruz cheia e do túmulo vazio. O Cristo crucificado impulsionou a igreja no passado e Ele mesmo, ressurreto e vivo o fará no presente. Fiquemos próximos da cruz e do Cristo! Este deve ser o supremo desejo do verdadeiro discípulo de hoje, na Páscoa e sempre.
Nesta Páscoa, façamos nossas as palavras daquele discípulo que viveu mais radicalmente a cruz de Jesus Cristo segundo o Novo Testamento: “... eu morri... a fim de viver para Deus. Fui crucificado com Cristo. Assim, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim. A vida que agora vivo no corpo, vivo-a pela fé no filho de Deus, que me amou e se entregou por mim” (Gl. 2:19-20).
FATELA 2008
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